"PARA QUE VEJAM AS VOSSAS BOAS OBRAS E GLORIFIQUEM A VOSSO PAI QUE ESTÁ NOS CÉUS"
(Mateus 5.16)

quarta-feira

 



CRENTES QUE PECAM

Introdução

1.  O ideal é que todos os crentes não pecassem. Jesus Cristo assim recomendou a duas pessoas: “Vai e não peques mais” e “Não peques mais para que não te suceda coisa pior”. Essa recomendação foi mais tarde mantida através do apóstolo João em sua carta: “Não pequeis” e “Não vivam pecando”.

2.  Exatamente como consequência dessa recomendação, alguns teólogos criaram a Doutrina da Impecabilidade, isto é, o ensino segundo o qual todos os crentes teriam o potencial de viver neste mundo sem cometer pecados.

3.  É também o que parece quando olhamos para certos crentes e líderes, considerando nossas limitações na percepção da vida íntima ou particular de cada um. Parecem pessoas perfeitas, intocáveis, impecáveis.

Desenvolvimento

1.  Esta, porém, não tem sido a realidade de vários crentes, os quais amargam experiências negativas e que se tornam objetos de comentários, rejeição e condenação própria e alheia, sem saber como lidar com essa dramática realidade.

2.  A situação se agrava quando as listas de pecados existentes nas páginas da Bíblia são claras em enumerar situações identificadas como pecados cometidos contra Deus, contra a Igreja e uns contra os outros. No Velho testamento, por exemplo, essas listas aparecem em Levíticos e Deuteronômio. No Novo Testamento, elas foram feitas através das cartas dos apóstolos.

2.1. Na minha interpretação, essas listas de pecados nos quais as pessoas são identificadas, constituem-se em instrumentos didáticos para nos ajudar  a compreender o que se quer dizer com a expressão “cometer pecado”. São exemplos.

2.2. Penso assim porque na teologia do Novo Testamento “todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus”, “Não há um justo, nenhum sequer”, “Todos se extraviaram”. A única maneira de sair dessa categorização universal é através da “fé em Jesus Cristo, mediante o arrependimento”, que inclui confissão e perdão.

3.  Uma vez que o pecador se torne crente em Jesus Cristo, ele inicia uma nova vida, recebendo uma nova natureza. Através da presença do Santo Espírito, em seu coração, ela se torna uma nova criatura, possuidora de uma natureza espiritual que afeta seus pensamentos, seus sentimentos, sua vontade e sua consciência, gerando novos comportamentos, atitudes e ações.

4.  Ocorre, todavia, que realisticamente falando, essa nova natureza espiritual que a torna uma nova criatura não extingue a velha natureza da velha criatura carnal. O resultado dessa dinâmica é um conflito interior que na linguagem bíblica é chamada de “luta da carne contra o espírito e do espírito contra a carne”.  Nesse conflito, o espírito deveria prevalecer, isto é, somos convidados a “ser guiados pelo espírito”, “andar no espírito”, “viver no espírito”. Se essa dinâmica não ocorrer, crentes tem recaídas, voltando a pecar. Alguns são vistos como se deixassem de ser crentes ou se fossem falsos crentes, objetos de autocomiseração e rejeição alheia.

5.  Uma realidade tão dramática e que afeta tantas pessoas precisa, por isso mesmo, ter uma apreciação bíblica mais justa e menos precipitada por parte de todos nós.

5.1.    Já sabendo que isso poderia ocorrer, desde o início Jesus recomendou que os fatos fossem primeiramente apurados e depois julgados (Mateus 18.15,16).

5.2.    Ao orientar as primeiras igrejas com os primeiros crentes, Paulo apóstolo fez recomendações na direção de que houvesse tratamento adequado (Gálatas 6.1).

6.  Significa, em outras palavras, portas abertas para arrependimento, confissão, perdão e renovação, mesmo incluindo situações repetitivas (Lucas 17.4). A sentença final categorizando como não crente ou falso crente objeto de exclusão só ocorreria quando realmente “alguém dizendo-se irmão, for ...” (I Coríntios 5.11; II João 1.10). Somente pessoas não convertidas seriam condenadas e excluídas. A atitude de se identificar como crente não seria suficiente, pois o estilo de vida inegavelmente pecaminosos seria o fato determinante para não existir dúvidas. 

Conclusão

1.  Uma vez que nem todos os pecados ficam expostos e que um pecado não é maior do que outro, não conseguimos afirmar que alguém seja realmente pecador, prevalecendo a aparência impecável.   Também existem pessoas que por razões genéticas ou culturais tem natural inclinação para uma vida pautada pela moralidade. Portanto, não podemos sair por aí levantando suspeitas contra quem quer que seja. Na verdade, “cada um dará conta de si mesmo a Deus”.

2.  Podemos, todavia, lidar adequadamente com crentes verdadeiros que estão sujeitos a pecar, eventualmente descobertos ou não, que amargam profundamente a fragilidade humana que o tornam infelizes em seus alvos pessoais e nas expectativas de Deus. Essa maneira de lidar adequadamente é sempre lembrar o caminho do arrependimento, da confissão, do perdão e da recuperação.

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segunda-feira

 


SOBRE APLICAÇÃO DA BÍBLIA EM NOSSOS DIAS

INTRODUÇÃO
    Todos são chamados a fazer a LEITURA INTEGRAL da Bíblia, de Gênesis a Apocalipse. Com esse objetivo a Bíblia tem sido publicada com os seus 66 livros. O mais relevante propósito é estimular as pessoas a terem uma visão geral, a fim de que possam compreender seu conteúdo ao longo da história que ela percorre.

DESENVOLVIMENTO
1. Quanto à sua INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO na vida pessoal, familiar e eclesiástica é que encontramos atitudes diferentes por parte de seus leitores.
1.1. Começa pelo fato do NOVO TESTAMENTO afirmar que o VELHO TESTAMENTO foi abolido quanto ao Concerto ou Pacto para o relacionamento entre os seres humanos e Deus, sendo estabelecidas novas bases, exigências e resultados, seja através dos ensinos de Jesus Cristo, seja através dos escritos dos apóstolos.
1.2. Prossegue formalmente quando a TEOLOGIA HISTÓRICA mostra discussões e decisões que estabeleceram outros documentos através de concílios, sínodos e congressos e de livros de teólogos em relação às crenças que devemos ter. A divisão em Teologia Apostólica, Teologia Patrística, Teologia Medieval, Teologia Moderna e Teologia Contemporânea deram legitimidade a esses documentos e livros, colocando-os ao lado da Bíblia em valor doutrinário e considerando a Teologia Apostólica "uma" interpretação a respeito de Jesus Cristo e motivando "outras" interpretações mais atualizadas a cada época.
1.3. Culmina quando leitores individuais e igrejas independentes são SELETIVOS na escolha dos textos bíblicos, isto é, separam textos no Velho e Novo Testamento que aplicam a si e a a outras pessoas, pelas mais diferentes razões e objetivos.
2. Considerando a inegável liberdade de ler, interpretar e aplicar a Bíblia e respeitando a decisão de cada indivíduo e de cada igreja, penso que, a título de leitura e interpretação, a produção teológica ao longo do tempo deva ser "toda examinada", principalmente para apropriação do seu conteúdo teológico.
3. Todavia, sem que seja identificado como fundamentalista, conservador, ortodoxo, liberal, neoconservador, neo-ortodoxo ou neoliberal, adoto a posição de me LIMITAR ao NOVO TESTAMENTO quanto à APLICAÇÃO pessoal, familiar e congregacional, sem qualquer tipo de SELETIVIDADE de textos. As doutrinas já estabelecidas e as aplicações já feitas nas páginas do NOVO TESTAMENTO são válidas para todas as épocas e em todos os lugares nas situações por ele apreciadas.
3.1. Uma base para este meu posicionamento é o que se chama de "canon sagrado", isto é, livros que tiveram o reconhecimento formal como únicos inspirados. Fico limitado aos que assim foram reconhecidos no Novo Testamento.
3.2. Outra base foi o exemplo deixado pelo apóstolo Paulo quando lidou com questões práticas e doutrinas em uma igreja local. Ele deixou escrito: "Apliquei estas coisas a mim e a Apolo, por amor a vocês, para que aprendam o que significa: 'não ultrapassem o que está escrito' ( I Coríntios 4.6).
4. Se os ensinos dados para praticas pecaminosas observadas pelos apóstolos nas igrejas locais em seus dias encontram resistência para serem aplicados em práticas semelhantes em nosso tempo, sejam por razões biológicas, sejam culturais e sociais, sejam por razões de legislação, o que nos resta é o caminho do arrependimento, da confissão e do perdão, usufruindo da graça, sem que venhamos a lançar mão da atitude de "ignorar" ou "mudar" esses ensinos apostólicos (Lucas 17.3-5; I João 1.8-10; II Coríntios 12.7-10). Alias, esses ensinos para arrependimento, confissão e perdão, associados com o ensino de que o justo cai 7 vezes e se levanta também 7 vezes (Provérbios 24.16), já seriam suficientes para gerar polêmica com os legalistas, que argumentariam estarmos "facilitando a vida dos pecadores". 
5. Se as situações práticas exclusivas da época apostólica, como por exemplo o "uso de véu no lugar do cabelo" ou a recomendação de "não falar na igreja, mas perguntar ao marido em casa" não existem mais em nosso tempo, prevalece para nossa sabedoria a descoberta de qual era o "princípio" ministrado na época através do ensino deles e que pode ser contextualizado para aplicação hoje.
6. Se situações exclusivas da atualidade não foram previstas na época apostólica, repetindo, se não foram previstas pelos apóstolos, se não foram abordadas, entendo que, para essas situações exclusivamente atuais, devam ser aplicados os "princípios" que se podem extrair de textos bíblicos mais próximos possíveis dessas situações, sob a iluminação do Espírito de Deus e à luz da realidade e da necessidade, contando com o senso comum, o consenso e o bom senso em sua aplicação.
7. Em relação ao que entendo a respeito das listas de pecadores que foram feitas nas páginas do Novo Testamento sobre pessoas que não serão salvas, considero-as como exemplos didáticos ilustrativos, pois a doutrina afirmada é que na verdade "todos já estão condenados", não existindo uma relação discriminando quem será condenado. Somente a fé em Jesus Cristo, mediante o arrependimento de pecados, retira pessoas dessa condenação universal (Romanos 3.9-19; João 3.16-18,36). 
8. Sobre os efeitos da conversão, os ensinos e casos registrados no Novo Testamento mostram recomendações e mudanças gradativas ou radicais naqueles que experimentam, mesmo gerando conflitos interiores. Não apenas mudança de mente, de pensamento (metanóia) quanto a Deus e a Jesus Cristo, mas também mudança de sentimentos, de comportamentos e de vontade quanto às experiências na vida (Lucas 9.54-56; 15.17-21; 19.1-10; I Coríntios 6.10,11,18; Efésios 4.25-32; Colossenses 3.5-10; Gálatas 5.13,16-26; Romanos 8.5)

CONCLUSÃO
    O Velho Testamento deve ser lido à luz do Novo Testamento e este deve ser exclusivo na definição de doutrinas para a vida pessoal, familiar e eclesiástica, seja através de sua aplicação literal em situações que se repetem ao longo da história, seja através da aplicação dos princípios que nele existem em  outras situações que são exclusivamente atuais.
    A produção literária da Teologia Histórica deve ser objeto apenas de leitura para aquisição de cultura teológica e compreensão de como os cristãos tem lidado com variadas questões, percebendo as heresias e as novidades que sempre aparecem.

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terça-feira

 


Deuteronômio 18.10,11

 

A PRÁTICA DO FETICHISMO NA FÉ CRISTÃ

1 - O Fetichismo

A maneira mais fácil de compreendermos o fetichismo é lembrar sua associação com o Animismo, que é o nome dado à crença religiosa de povos primitivos. No Animismo os objetos e seres da natureza seriam possuidores de almas ou espíritos que neles residiriam.

O fetichismo é a atribuição de poder espiritual a objetos e coisas, através da ação de um feiticeiro, que teria o poder mágico de encantar esses objetos e coisas.

O fetiche, objeto ou coisa encantada, além de ter feito parte dos povos primitivos, também estava presente na religiosidade dos egípcios. Os amuletos egípcios encontrados em museus “são pequenos objetos de terra envernizada, de pasta de vidro, às vezes de metal ou pedra: braceletes, colares, argolas, olhos, cetros, dedos, mãos...” (Huby, p. 689).

No Brasil, o fetichismo se fez presente através do Candomblé, originário da África, onde a “figura do sacerdote é cada vez mais próxima da combinação dos diferentes papéis : feiticeiro, mago, adivinho e sábio” (Costa, pg. 118). Usando seu poder mágico, o feiticeiro atribui a objetos e coisas um poder espiritual.

 

2 - Relíquias e Símbolos

No Cristianismo, o fetiche passou a ser incorporado, ao longo dos séculos, a partir do uso das relíquias dos mártires, as quais se atribuem poderes miraculosos. Podiam “restaurar doentes, exorcizar demônios, revelar crimes, impedir pragas e até ressuscitar mortos... ossos dos mártires, seus utensílios e os instrumentos com o quais foram suplicados” (Muirhead, p. 225). Essas relíquias dos mártires canonizados, além das famosas lascas da cruz de Jesus Cristo, teriam poderes miraculosos por terem pertencido aos santos, sendo assim “a contra parte do fetichismo” (Muirhead, pg. 226)

Os símbolos religiosos cristãos que pretendiam apenas representar a realidade espiritual inacessível passaram também a substituir essa realidade, transformando-se igualmente em fetiches. Os símbolos religiosos que seriam “meios para expressão da fé” (Tillich, In Hich, p. 113), passaram a ser vistos e tocados como objetos e coisas com poder sobrenatural, inclusive a eucaristia e o batismo.

 

3 - Os atos mágicos e suas implicações

Além dos católicos que usaram relíquias e símbolos, também entre evangélicos constata-se mais do que a transformação de relíquias e símbolos em fetiches, por parte do povo (Atos 5.15; 19.12). Estamos vendo evangelistas, missionários, pastores e bispos agindo como feiticeiros. Fazendo-se possuidores de poderes espirituais, estão “ungindo”, “sacramentalizando” e “abençoando” coisas e objetos, transferindo-lhes poderes sobrenaturais à semelhança dos feiticeiros com seus poderes mágicos.

Em atos de culto, o feiticeiro vai se fazendo presente no Cristianismo. A partir de um momento, o azeite, o óleo, a água, as peças de roupas, as fotos, as flores, as chaves, as cruzes, o sabonete, o mel, as joias, e outras coisas e objetos tornam-se possuidoras de poderes sobrenaturais.

Esses homens e mulheres estão sendo iludidos por espíritos enganadores de feitiçaria e idolatria ou estão patologicamente expressando um distúrbio da personalidade que substitui a realidade pelo símbolo (D’Andrea, p. 189). Isto para não dizer que seriam charlatões hipócritas, alimentando a ignorância das pessoas.

 

4 - Análises psico-espiritual

Por mais que o ser humano seja sensorial e, por isso, também seja inclinado a símbolo, relíquias, amuletos e fetiches, o apelo do Cristianismo é ao exercício da fé em Deus, através de Jesus Cristo, como realidades invisíveis e intocáveis. Paulo apóstolo escreve aos cristãos de Corinto : “... ainda que tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos desse modo” (II Coríntios 5.16).

Pedro apóstolo comenta a atitude espiritual de outros cristãos na relação com Jesus : “... a quem sem o terdes visto, amais; no qual sem agora o verdes, mas crendo, exultai com gozo inefável e cheio de glória” (I Pedro 1.8).

Se precisarmos usar símbolos religiosos, considerando a dimensão sensorial do indivíduo, precisamos todavia também enfatizar que o símbolo não passa de uma representação e precisamos insistir na necessidade de se crer na pessoa de Jesus, esclarecendo que a fé nos leva a ver o invisível (Hebreus11.27) e a estabelecermos com Deus uma relação pessoal  através da oração (Efésios 3:14-17), sempre consciente de que Deus é invisível (Colossenses 1.15).

        Tendo com Jesus, o Filho de Deus, uma relação pessoal e espiritual, ainda que invisível, o crente escapa do fetichismo e se livra de feiticeiros, inclusive cristãos (Apocalipse 21.08)

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Bibliografia

COSTA, Neusa Meirelles. Misticismo, Magia e a Desconhecida Religião do Outro - o Candomblé. In Revista Religião & Psicologia do Instituto Metodista de Ensino Superior. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, ano 1, nº 1, 1985.

D’ANDREA, Flávio Fortes. Transtornos Psiquiátricos do Adulto. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil S/A., 1990.

HUBY, José. História das Religiões. São Paulo: Edições Saraiva, 1956.

MUIRHEAD, H. H. O Cristianismo Através dos Séculos. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1959.

TILLICH, Paul. In HICK, John. Filosofia da Religião. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1970.


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