Deuteronômio 18.10,11
A PRÁTICA DO FETICHISMO NA FÉ CRISTÃ
1 - O Fetichismo
A maneira mais fácil de compreendermos o fetichismo é lembrar sua
associação com o Animismo, que é o nome dado à crença religiosa de povos primitivos.
No Animismo os objetos e seres da natureza seriam possuidores de almas ou
espíritos que neles residiriam.
O fetichismo é a atribuição de poder espiritual a objetos e coisas,
através da ação de um feiticeiro, que teria o poder mágico de encantar esses
objetos e coisas.
O fetiche, objeto ou coisa encantada, além de ter feito parte dos povos
primitivos, também estava presente na religiosidade dos egípcios. Os amuletos
egípcios encontrados em museus “são pequenos objetos de terra envernizada,
de pasta de vidro, às vezes de metal ou pedra: braceletes, colares, argolas,
olhos, cetros, dedos, mãos...” (Huby, p. 689).
No Brasil, o fetichismo se fez presente através do Candomblé, originário
da África, onde a “figura do sacerdote é cada vez mais próxima da combinação dos
diferentes papéis : feiticeiro, mago, adivinho e sábio” (Costa, pg.
118). Usando seu poder mágico, o feiticeiro atribui a objetos e coisas um poder
espiritual.
2 - Relíquias e Símbolos
No Cristianismo, o fetiche passou a ser incorporado, ao longo dos
séculos, a partir do uso das relíquias dos mártires, as quais se atribuem
poderes miraculosos. Podiam “restaurar doentes, exorcizar demônios,
revelar crimes, impedir pragas e até ressuscitar mortos... ossos dos mártires,
seus utensílios e os instrumentos com o quais foram suplicados”
(Muirhead, p. 225). Essas relíquias dos mártires canonizados, além das famosas
lascas da cruz de Jesus Cristo, teriam poderes miraculosos por terem pertencido
aos santos, sendo assim “a contra parte do fetichismo” (Muirhead,
pg. 226)
Os símbolos religiosos cristãos que pretendiam apenas representar a
realidade espiritual inacessível passaram também a substituir essa realidade,
transformando-se igualmente em fetiches. Os símbolos religiosos que seriam “meios
para expressão da fé” (Tillich, In Hich, p. 113), passaram a ser vistos
e tocados como objetos e coisas com poder sobrenatural, inclusive a eucaristia
e o batismo.
3 - Os atos mágicos e suas implicações
Além dos católicos que usaram relíquias e símbolos,
também entre evangélicos constata-se mais do que a transformação de relíquias e
símbolos em fetiches, por parte do povo (Atos 5.15; 19.12). Estamos vendo
evangelistas, missionários, pastores e bispos agindo como feiticeiros.
Fazendo-se possuidores de poderes espirituais, estão “ungindo”,
“sacramentalizando” e “abençoando” coisas e objetos, transferindo-lhes poderes
sobrenaturais à semelhança dos feiticeiros com seus
poderes mágicos.
Em atos de culto, o feiticeiro vai se fazendo presente no Cristianismo.
A partir de um momento, o azeite, o óleo, a água, as peças de roupas, as fotos,
as flores, as chaves, as cruzes, o sabonete, o mel, as joias, e outras coisas e
objetos tornam-se possuidoras de poderes sobrenaturais.
Esses homens e mulheres estão sendo iludidos por espíritos enganadores
de feitiçaria e idolatria ou estão patologicamente expressando um distúrbio da
personalidade que substitui a realidade pelo símbolo (D’Andrea, p. 189). Isto
para não dizer que seriam charlatões hipócritas, alimentando a ignorância das pessoas.
4 - Análises psico-espiritual
Por mais que o ser humano seja sensorial e, por isso, também seja
inclinado a símbolo, relíquias, amuletos e fetiches, o apelo do Cristianismo é
ao exercício da fé em Deus, através de Jesus Cristo, como realidades invisíveis
e intocáveis. Paulo apóstolo escreve aos cristãos de Corinto : “... ainda
que tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o
conhecemos desse modo” (II Coríntios 5.16).
Pedro apóstolo comenta a atitude espiritual de outros cristãos na
relação com Jesus : “... a quem sem o terdes visto, amais; no qual
sem agora o verdes, mas crendo, exultai com gozo inefável e cheio de glória”
(I Pedro 1.8).
Se precisarmos usar símbolos religiosos, considerando a dimensão
sensorial do indivíduo, precisamos todavia também enfatizar
que o símbolo não passa de uma representação e precisamos insistir na
necessidade de se crer na pessoa de Jesus, esclarecendo que a fé nos leva a ver
o invisível (Hebreus11.27) e a estabelecermos com Deus uma relação pessoal através da oração (Efésios 3:14-17), sempre consciente de que Deus é invisível (Colossenses 1.15).
Tendo com Jesus, o Filho de
Deus, uma relação pessoal e espiritual, ainda que invisível, o crente escapa do
fetichismo e se livra de feiticeiros, inclusive cristãos (Apocalipse 21.08)
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Bibliografia
COSTA, Neusa
Meirelles. Misticismo, Magia e a Desconhecida Religião do Outro - o
Candomblé. In Revista Religião & Psicologia do Instituto Metodista de
Ensino Superior. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, ano 1, nº 1, 1985.
D’ANDREA,
Flávio Fortes. Transtornos Psiquiátricos do Adulto. Rio de Janeiro:
Editora Bertrand Brasil S/A., 1990.
HUBY, José. História
das Religiões. São Paulo: Edições Saraiva, 1956.
MUIRHEAD, H.
H. O Cristianismo Através dos Séculos. Rio de Janeiro: Casa Publicadora
Batista, 1959.
TILLICH, Paul. In HICK,
John. Filosofia da Religião. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1970.
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