Provérbios 4.2
NEM A DIREITA E NEM A ESQUERDA
Introdução
1. O
significado original desta expressão no livro de Provérbios era figurado e
aplicável a situações na vida humana onde houvesse possibilidade da maldade ser
praticada. Ao recomendar que o indivíduo
evitasse tanto a esquerda quanto a direita, o objetivo do texto era fazer com que
não houvesse desvio do rumo previamente traçado, quanto à prática do bem. Tanto é assim que o contexto acentua a
importância de olhar para frente, procurando fugir do mal.
2. A mesma
orientação havia sido dada séculos antes a outras pessoas, através de Moisés na
liderança do povo de Deus: “E não te
desviarás de todas as palavras que hoje te ordeno, nem para a direita nem para
a esquerda, andando após outros deuses, para os servires” (Deuteronômio
28.14). Anos mais tarde, Josué recebeu recomendação semelhante: “Tão somente esforça-te e tem mui bom ânimo,
para teres o cuidado de fazer conforme a toda a lei que meu servo Moisés te
ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que
prudentemente te conduzas por onde quer que andares” (Josué 1.7). No
primeiro caso, seria evitar a idolatria. No segundo caso, seria manter
fidelidade à lei de Deus.
3. É,
portanto, uma recomendação associada à capacidade que os seres humanos têm de
fazer escolhas, de acordo com o livre arbítrio, mostrando claramente que existe
possibilidade de fazer opções diferentes, representadas no simbolismo de olhar
para frente, de olhar para a esquerda, de olhar para a direita, podendo optar
em seguir qualquer uma dessas ou de outras opções que surjam. O que vai
determinar a escolha será uma recomendação ou uma atração ou uma sedução, não
descartando as motivações que levam pessoas a tomar decisões na vida. A ideia
atual de fazer opção pelo centro não estava prevista ou inferida. Nos textos
bíblicos, a recomendação prevista para não seguir a esquerda ou a direita era
seguir em frente. Se existisse uma ideia de centro, este inevitavelmente seria
evitar o mal, evitar a idolatria, manter-se fiel à lei de Deus, seguir a Jesus
Cristo.
Desenvolvimento
1.
Compreendido o significado original da expressão bíblica na dimensão religiosa
e espiritual, o princípio hermenêutico de interpretação nos permite e nos
conduz a aplicar a recomendação em outras áreas da vida humana, interpretando
que a opção pela esquerda ou pela direita pode não ser a melhor opção.
2. Pensemos
especificamente na área política onde estas expressões são continuamente
enfatizadas e objeto de embates, querendo arrastar multidões para uma ou outra
opção.
2.1.
Procurando identificar o que significa ser da esquerda, politicamente falando,
à luz de sua origem histórica, além do discurso em favor dos pobres e da
prática de programas sociais para beneficiá-los financeiramente, alguém resumiu
o que seja a esquerda em algumas expressões muito esclarecedoras: “Ao ser de esquerda abraçamos uma visão do
mundo que considera que o movimento dos trabalhadores é a nossa referência de
esperança, e suas lutas são as nossas. Ao ser de esquerda abraçamos um projeto
de luta pelo poder. Os trabalhadores devem governar para transformar a
sociedade em função da satisfação das necessidades da maioria. Ao ser de
esquerda abraçamos o socialismo como programa. Essa opção nos coloca em
oposição à propriedade privada, portanto, ao capitalismo”
(https://blogdaboitempo.com.br/2023/12/01/o-que-significa-ser-de-esquerda-hoje/).
2.2. Por
outro lado, também à luz de aspectos históricos, ser de direita abarca vários
aspectos, tais como: economia (livre mercado e valorização da propriedade
privada), politicas (individualismo, liberdade, Estado mínimo), sociais
(meritocracia, programa social reduzido), produção (indústria capitalista e
lucro como alvo), “sempre pautado na
figura do indivíduo e de suas respectivas liberdades, centrado na ideia de que
a sociedade será melhor se as pessoas exercerem a sua ampla liberdade para
tomarem decisões individuais” (https://www.politize.com.br/o-que-e-ser-de-direita/).
2.3.
Aproveitando-se uma situação de conflito entre essas opções, surgiu o que
passou a ser chamado de centro ou centrão. É uma opção política constituída por
congressistas que tem como “principal
característica uma atuação parlamentar clientelista e fisiológica. É um jeito
de organizar um bloco parlamentar interpartidário, ou suprapartidário, de
parlamentares fisiológicos” (https://www.goethe.de/prj/hum/pt/dos/ctr/24737158.html).
Prevalecem os interesses próprios.
3. Se a
solução não está na esquerda, nem na direita e nem no centro, mas ir em frente
seguindo a Jesus Cristo, após a separação entre Igreja e Estado criou-se a
ideia de aplicar os valores e princípios cristãos na política, através do
movimento chamado evangelho social, começando com a eleição de cristãos no
legislativo. Além dos que se identificam como católicos, a conhecida bancada
evangélica soma 228 integrantes, sendo 202 deputados federais e 26 senadores. O
principal slogan associado a esse ambicioso projeto de se estabelecer no poder dizia:
“O Brasil é de Jesus Cristo”.
3.1. O
resultado atual dessa empreitada, porém, não passa de uma guerra de palavras
entre eles. Além de alguns parlamentares cristãos se identificarem com a
esquerda, iludidos com o discurso em favor dos pobres, a maioria dos parlamentares
cristãos acabou se identificando com a direita, considerando a semelhança de valores
e princípios tradicionais com os valores e princípios cristãos. O resultado é
uma batalha verbal diária entre religiosos cristãos identificados com a direita
e os demais parlamentares da esquerda, religiosos ou não.
3.2. Outro
aspecto é que o sonho de um país adotando valores e princípios cristãos não se
efetiva, pois o poder executivo e o poder judiciário continuaram sob a
influência de membros identificados com a esquerda. O resultado igualmente são conflitos
entre os três poderes e uma população politizada e dividida, veiculando seus
posicionamentos através dos veículos tradicionais de comunicação comprometidos
com a esquerda e das mídias sociais expressando posições da direita. Atritos,
agressões verbais, processos judiciais, prisões de contestadores e manifestações
populares nas ruas mostram que o país não está indo pra frente, seguindo a
Jesus Cristo no sonho do salmista “Bendita
é a Nação cujo Deus é o Senhor”.
Conclusão
A
esquerda ilude cristãos com o discurso em favor dos mais pobres. A direita
ilude os cristãos com a semelhança entre valores e princípios tradicionais com
os valores e princípios bíblicos. O que a esquerda e a direita efetivamente produzem
nos países onde exercem domínio e controle está visível em várias partes do
mundo. De um lado o totalitarismo, com a prisão e morte de dissidentes,
ausência de liberdades democráticas, nivelamento da maioria da população na
camada social empobrecida, desenvolvimento econômico através de capitalistas
autorizados, permanência no poder pela força militar. Do outro lado,
democracias permissivas, crescimento industrial descontrolado, capitalismo
selvagem explorando o trabalhador, desigualdade econômica entre a população,
problemas ambientais em virtude da industrialização desenfreada, inclusive de
armas que aumentam a violência e as guerras.
Se
os cristãos deixassem a esquerda, a direita, o centro e fossem em frente
seguindo a Jesus Cristo, exercendo liderança no país e o mundo, os resultados
seriam diferentes? À luz da realidade humana, do direito das pessoas serem
diferente e da influência do mal, a promessa é que isto só irá acontecer plena
e satisfatoriamente depois da volta de Jesus Cristo e dos novos céus e da nova
terra. Até lá, prevalecem a utopia e o conflito entre o bem e o mal.
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