"PARA QUE VEJAM AS VOSSAS BOAS OBRAS E GLORIFIQUEM A VOSSO PAI QUE ESTÁ NOS CÉUS"
(Mateus 5.16)

quinta-feira

MANIFESTO NAS RUAS


Pr. Edson Raposo Belchior



Não interpretar a manifestação das ruas como uma expressão da insatisfação de muitos brasileiros, resultado de promessas não cumpridas por parte de líderes  governamentais, partidários, econômicos e até religiosos, seria uma atitude de cegueira. Ocorre, todavia, que essa interpretação precisa ser ampliada para que outros aspectos também sejam considerados. Analisemos alguns deles.

1Representatividade popular.
Quem estuda estatística sabe que existe a pesquisa de amostragem, cuja característica é interpretar a expressão do todo através de parte desse todo. Se a pesquisa não pode ser feita com todos, uma parcela é escolhida representativamente. Ainda que existam margens de erro e acerto, essas pesquisas representam o todo num determinado momento. Neste caso, a manifestação de 2 milhões de pessoas nas ruas representaria o pensamento, os sentimentos e a as crenças de 196 milhões de brasileiros? A insatisfação com a saúde pública, com o sistema de transporte, com a insegurança urbana, com os baixos salários, com a corrupção generalizada levaria essa maioria a promover paralisações, interdição de estradas e avenidas, greves, invasão de órgãos públicos e propriedades particulares, piquetes, pedradas, coquitéis molotov, agressões às autoridades, acreditando que estes são os únicos e eficientes meios de produzir mudanças?

2. O vandalismo oportunista
Essa indagação foi respondida pela própria maioria dos que foram às ruas. Quando surpreendida várias vezes pelos vândalos reafirmou o desejo de fazer manifestações em paz, inclusive considerando a presença de crianças, adolescentes e familiares. Mais ainda: se essa maioria pacífica foi surpreendida no primeiro momento pelos vândalos, a partir das manifestações seguintes, ciente e consciente da existência e ações de vândalos se aproveitando, deixou de participar, razão porque o número diminuiu significativamente. Por isso, o retorno às ruas de um número menor de  pessoas não pode mais ser justificado como se não soubessem que os vândalos estariam se aproveitando. Não é mais uma manifestação inocente! Podemos até imaginar que se tornam manifestações coniventes. Pior ainda: a) seriam manifestações de pessoas que não tendo coragem de praticar a violência estariam invertendo os papéis, usando os vândalos para praticá-la; b) seriam manifestações de pessoas querendo assistir os vândalos destruirem o que pudessem, à semelhança daqueles que vão iam aos estádios para verem os gladiadores se matarem uns aos outros.

3. Ações e reações da Polícia Militar
A Polícia Militar também foi surpreendida, como todos nós, na primeira manifestação e agiu de imediato com repressão e dispersão, atingindo quem estivesse na frente. No entanto, essa Polícia Militar se reorganizou e passou a proteger os cidadãos que desejavam manifestação pacífica e a combater os vândalos. O problema é que a nova atitude da Polícia Militar não pode ser usada com perfeição porque os vândalos se misturam a cidadãos “inocentes” . Repete-se a estratégia de terroristas que se misturam a mulheres e crianças para confundir e incriminar os militares que os combatem. Esses “inocentes” cidadãos continuam acreditando que podem fazer frente aos vândalos. Entretanto, tenho certeza que se não fosse a ação da Polícia Militar os prejuízos teriam sido maiores e um clima de anarquia estaria prevalecendo. A Polícia Militar, em sua maioria (exceto os que exageram) deveria ser prestigiada pela população, mídia e autoridades, inclusive publicamente. Sem a Polícia Militar os vândalos estariam se aproveitando ainda mais da maioria pacífica e transformando cidades em áreas de destruição. Ninguém mais poderia dizer que teria sido "efeito colateral". Esse discurso genérico contra a Polícia Militar pretende tirá-la de ação para que a anarquia seja estabelecida. São discursos de pessoas que pretendem assumir a liderança e o poder através da violência.

4. Interpretação religiosa.
A esta altura, alguém estaria dizendo que esta é uma posição que expressa uma tendência religiosa conformista, comprometendo reivindicações sociais, políticas e econômicas mais do que justas.
Assumindo minha identidade religiosa na interpretação dos fatos, outra não poderia ser minha atitude, considerando os ensinos cristãos que dizem:
- “Bem aventurados pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5.9).
- “Todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão” ( Mateus 26.52).
-  “Não de deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Romanos 12.21)
- "Quem se revolta contra as autoridades está se revoltando contra o que Deus ordenou... Porque as autoridades estão a serviço de Deus para o bem... Elas estão a serviço de Deus e trazem o castigo dele sobre os que fazem o mal" (Romanos 13.2-4).
- “ Sujeitai-vos a toda ordenação humana por amor do Senhor, quer ao rei, como superior, quer aos governadores como por ele enviados para castigo dos malfeitores” ( I Pedro 2.13,14).

Outros textos contrários a esses pensamentos poderiam ser também achados na Bíblia, todavia na parte do Velho Testamento. Por isso é importante afirmar que religiosamente somos cristãos, procurando colocar em prática os ensinos e doutrinas registrados no Novo Testamento.

Martin Luhter King, pastor batista, promoveu manifestações contra o racismo norte-americano. No entanto, não lançou mão da violência nem como reação à violência que sofreu. Suas passeatas foram pacíficas, sofrendo as reações agressivas dos que lhe eram oposição. Venceu por que realmente promoveu manifestações de pessoas que, além de serem pacíficas, oravam ao Pai Celestial.

Muitos de nós estivemos e estamos orando a Deus para que Ele ajude nosso país neste momento histórico, para que nós possamos viver em paz e através do Seu agir nossas necessidades de cidadãos possam ser atendidas.