"PARA QUE VEJAM AS VOSSAS BOAS OBRAS E GLORIFIQUEM A VOSSO PAI QUE ESTÁ NOS CÉUS"
(Mateus 5.16)

terça-feira

ANÁLISE PSICOTEOLÓGICA DA EXPERIÊNCIA DE CONVERSÃO CRISTÃ


                                                                                                          Edson Raposo Belchior


Por mais que certas pessoas não acreditem, a experiência de conversão religiosa cristã continua ocorrendo de maneira inegável. Artistas, atletas, marginais, intelectuais, cientistas, ateus e pessoas simples continuam se convertendo e dando testemunhos impressionantes a respeito de uma nova experiência com Jesus Cristo.
Como as conversões continuam acontecendo, vários estudiosos do comportamento humanos têm procurado entender exatamente o que seja a experiência religiosa da conversão, inclusive a conversão cristã. Um estudo chamou-a de “despertar religioso” (Clark).
Outro a descreveu como “processo gradual ou repentino pelo qual uma personalidade anteriormente dividida, conscientemente confusa, inferior e infeliz, unifica-se e conscientemente se torna iluminada, superior e feliz” (James).
As conversões da mulher samaritana e Saulo de Tarso, narradas no Novo Testamento, à semelhança de muitas outras foram repentinas. As conversões de Apolo e Timóteo, também descritas no Novo Testamento, foram gradativas e crescentes, como as de outras pessoas em nossos dias. Uma pesquisa feita entre pessoas convertidas constatou que 55% experimentam de repente e, 44% gradativamente (Fermer).
1.  Os fatores
Para que as conversões sejam gradativas são necessários alguns fatores:
- influência de pais religiosos
- freqüência de estudos bíblicos
- participação em reuniões religiosas nos lares
- exposição contínua à pregação.
Estando sob os efeitos desses fatores, a conversão vai ocorrendo paulatinamente (Drakefor). A maioria se converte entre 12 e 16 anos de idade, segundo as pesquisas.
No caso das conversões repentinas, uma vez não expostas aos fatores acima, elas ocorrem quando as pessoas passam por crises, fatos dramáticos, acontecimentos drásticos. Nesse momento a pessoa percebe sua fragilidade, reconhece sua dependência e busca ajuda. A pessoa descobre Jesus como seu Salvador. Há uma entrega total (Ferner). Pode ocorrer a qualquer altura da vida: infância, adolescência, juventude, adultez, velhice.
2. As necessidades
Uma vez estando exposta à pregação ou leitura da vida e obra de Jesus, sob os efeitos da atuação do Espírito de Deus, a pessoa passa a crer em Jesus, para Ele dirigindo sua fé e adotando seus ensinos na vida pessoal.
Essa exposição verbal ou escrita à pessoa de Jesus Cristo vai ao encontro de interesses das pessoas, constituindo-se num estímulo que desperta esses interesses.
Os interesses pessoais são resultado dos instintos, isto é, de “forças dinâmicas da natureza humana que objetivam alcançar um alvo” (Antonini).
Mesmo que não admitamos a existência de um instinto religioso que levaria pessoas a Deus, outros instintos acabam determinando a experiência da conversão. Podemos também usar o termo “necessidades” em vez de instintos. As necessidades podem ser:
- orgânicas: fome, sede, respiração, sexo;
- sentimentais: amor, segurança, confiança, coragem, vitória, paz, perdão, proteção;.
- mentais: conhecimento, cultura, raciocínio, etc.
- sociais: fraternidade, prestígio, superioridade, reconhecimento, respeito, etc.
- espirituais: divindade, imortalidade, poder miraculoso, força sobre o mal, etc.
3. Os objetos da fé
Se as pessoas forem expostas a outros objetos para o exercício da fé, além de Jesus ou em Seu lugar, com linguagem e conotação religiosa (espíritos, santos, ídolos, amuletos, relíquias, imagem, etc), principalmente materiais e sensoriais, a experiência de conversão também vai ocorrer, pois os mesmos são estímulos aos interesses das pessoas. A contínua exposição manterá o interesse e a experiência religiosa se renovará.
O problema desse tipo de experiência de conversão está nos seguintes fatos:
- não há fidelidade exclusiva a Jesus Cristo;
- não é decorrente da atuação do Espírito de Deus, mas de outros espíritos;
- implica em manipulação feita por pessoas em torno das necessidades;
- as necessidades de fato não são atendidas, embora as pessoas pensem que estejam sendo, o que ocorre pela hipnose,  pela sugestão e pela esperança adiada;
- não existe garantia da salvação eterna, o que, todavia, só descobrirá depois da morte, na eternidade.
4. A inteligência
   Inteligentemente as pessoas se convertem a Jesus, quer gradual ou repentinamente.  Inteligentemente, porque isto é o que se tem constatado em estudos de casos. Numa pesquisa foi verificado que pessoas com coeficiente de inteligência superior se convertem mais rapidamente do que outras com coeficiente de inteligência menor. Por outro lado os menos inteligentes experimentam essa conversão com mais emotividade. São conversões mais emocionais. O problema é que a conversão emocional se caracteriza pela instabilidade. Os mais inteligentes mostram mais firmeza, porque inclusive tomam decisões mais racionalmente (Drakford).
5. A dúvida
É urna atitude que se caracteriza por urna “tendência determinada” (Bonner). “E um estado de alerta mental” (Drakford). É um estado da personalidade diante de certas pessoas e certos fatos.
Embora a emotividade esteja presente na dúvida, ela é uma atividade racional. A pessoa questiona a veracidade do está ocorrendo. A aceitação passiva de crenças é uma atitude infantil acompanhada pela emotividade (Drakford).
Considerando que a dúvida religiosa pode resultar na incredulidade, Satanás dela faz uso para que o homem deixe de acreditar em Deus - o seu grande objetivo.
Uma vez ocorrendo e sendo tratada de forma inteligente a dúvida se constitui, por outro lado, numa oportunidade para fortalecimento da fé. As crenças fáceis não estruturam uma personalidade forte e realizadora. Quando as dúvidas surgem, elas podem gerar também convicções firmes e inabaláveis.
Constatamos as seguintes causas que geram dúvidas:
- decepções com expectativas espirituais (fantasias) não cumpridas;
- desejo de diminuição das exigências morais e éticas impostas de modo radical sobre a pessoa;
- reação a sofrimentos não esperados e nem aceitos;
- insegurança em função de fatos da vida, levando a pessoa a duvidar de tudo e todos;
- mera identificação com pessoas de fama e sucesso nos meios científicos, culturais, sociais, financeiros, artísticos, políticos etc.
- meio para manter apego a ideologias, filosofias e religiões com as quais não consegue romper;
- busca simplista e paliativa de respostas e soluções para problemas e dificuldades experimentadas.
Ainda que a dúvida também possa ser uma atitude temporária, como um dilema, ela precisa, todavia, ser resolvida. Uma pessoa não pode saudavelmente viver com dúvidas, sob pena de prejudicar sua existência. Por isso é preciso desafiar a pessoa a crer.
Conclusão
   A expectativa de que o desenvolvimento científico viesse a substituir a religiosidade não ocorreu. Hoje, por mais cientifico que o mundo seja, a busca de Deus continua existindo e tem sido experimentada através de Jesus Cristo. É como afirmou o físico Antônio Carlos Alves de Aro, doutor em Medicina Nuclear: “Os cientistas estão hoje muito mais voltados para o campo espiritual, já que a ciência não consegue responder a questões cruciais da humanidade” (In Jornal Batista, 13/10/96, pg 16).
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Bibliografia

AMATUZZI, Mauro Martins. A Experiência Religiosa. In Estudos de Psicologia. Revista Quadrimestral do Instituto de Psicologia,  PUCCAMP, vol. 13 n.0 3, 1996, pg 63 a 70.
ARO, Carlos Alves de. Ciência e Religião. In Jornal Batista, RJ, Juerp, 12.10.96, pg 16.
ANTONINI, Faus e PANCERA, Maria Tereza. Psicologia. São Paulo: Edições Vertice, 1987.
DRAKEFORD, John W. Psicologia Y Religion. El Paso: Casa Bautista Publicaciones, 1980.
JONHSON, Paul E. Psicologia da Religião. São Paulo: Aste, 1959.
MARTINS, Jose Carlos. Psicologia e Religião na Perspectiva da Religião. In. Religião e Psicologia. Revista Instituto Metodista de Ensino Superior, ano I, nº 1, 1985, pg 11 a 21.
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Texto publicado na revista do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristão (CPPC), edição 45, conforme link abaixo:

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