"PARA QUE VEJAM AS VOSSAS BOAS OBRAS E GLORIFIQUEM A VOSSO PAI QUE ESTÁ NOS CÉUS"
(Mateus 5.16)

domingo






A CONTROVERSA DOUTRINA 
DA GRAÇA DE DEUS
Edson Raposo Belchior

Se alguém supõe que tratar desta doutrina seria  oportunidade para criar polêmica, principalmente quanto aos seus efeitos, está enganado. Ainda nos dias do apóstolo Paulo, quando apresentou e explicou este assunto, as reações negativas logo vieram ao seu conhecimento. Ele reflete a controvérsia vivida quando, escrevendo aos romanos, fez uma pergunta que lhe pareceu inevitável: “Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça. Pois quê? Pecaremos porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum” (Romanos 6.14,15).
Desde então, o debate em torno da doutrina da graça de Deus tem cada vez mais acirrado, levando a posicionamentos que confundem mais do que esclarecem. Vejamos alguns desses posicionamentos consequentes:
·        Pregar e ensinar sobre a graça de Deus levam pessoas a pensarem que podem pecar, tornando-as crentes levianas.
·        Se vamos pregar e ensinar que a graça de Deus concede salvação ao pecador mediante a fé em Jesus Cristo, esse pecador salvo pela graça deve guardar os mandamentos para evitar a vida pecaminosa.
·        A graça de Deus, portanto, somente se aplica aos pecadores perdidos, para que possam experimentar a salvação e começar uma nova vida de santidade com base na obediência aos mandamentos. Neste caso, claramente se percebe que a graça é o ponto de partida e a obediência aos mandamentos o ponto de chegada.

            Deixando-se levar por esse desdobramento racional a respeito dos efeitos da graça, perde-se de vista que se Deus amou ao pecador perdido e o salva pela graça, seu amor se torna ainda maior quando esse pecador se torna seu filho. É o que Paulo apóstolo arrazoou também aos romanos: Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Romanos 5.8,9).O novo relacionamento com Deus não diminui nem extingue sua graça, estabelecendo uma nova base, isto é, obediência aos mandamentos. Se obediência aos mandamentos era uma exigência, essa exigência permaneceu, porém a natureza humana sempre será um impedimento à obediência completa: “Porque bem sabemos que a lei é espiritual, mas eu sou carnal, vendido sob o pecado” (Romanos 7.14). De modo realista, o ensino teológico explica que ao se tornar crente em Jesus Cristo, há uma nova natureza. Todavia, a velha natureza continua existindo, gerando conflitos internos e até atitudes inadequadas na vida do crente, razão porque Paulo apóstolo também escreveu repetidas vezes: “A carne luta contra o espírito”.
            Diante desse impasse, qual seria a melhor opção para lidar com estas verdades da experiência cristã:
·        Pregar e ensinar que o crente salvo não mais comete pecado, tornando-se hipócrita ou iludido temporariamente?
·        Pregar e ensinar que a única forma de o crente salvo não pecar é obedecer aos mandamentos, tornando-se legalista e punitivo?
·        Adotar um estilo de vida liberal, sem qualquer tipo de obediência, porque sempre será salvo pela graça de Deus?
·        Admitir que mesmo o crente salvo está sujeito a pecar, razão porque sempre dependerá da graça de Deus, mesmo que procure obedecer aos mandamentos?
Penso que o modo mais realista, bíblico e espiritual de chegar a uma
conclusão é observar a experiência final do apóstolo Paulo, que tanto ensinou a graça de Deus quanto fez recomendações sobre a necessidade de se ter uma vida cristã cujo alvo é a perfeição, com padrões éticos e morais os mais elevados. A certa altura de sua vida, ele mesmo precisou ter definida a aplicação da doutrina da graça em sua própria experiência, quando viveu a dramática situação do “espinho na carne”, acerca do qual orou três vezes, para que fosse liberto. A resposta definiu seu posicionamento, à luz de sua própria experiência. Jesus lhe respondeu dizendo: “A minha graça te basta, porque o meu o poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Foi obrigado, por mais que lhe fosse difícil, reconhecer sua limitação e declarou em seguida: “De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte”.(II Coríntios 12.9,10).
            Somos salvos pela graça de Deus, em Cristo Jesus, mediante a fé e o arrependimento. Uma vez salvos, somos chamados, desde as primeiras palavras de Jesus Cristo a “não pecarmos mais” (João 5.14; 8.11). Este alvo foi confirmado por João apóstolo, quando claramente afirmou: “Estas coisas vos escrevo, para que não pequeis” (I João 2.1). No entanto, sem libertinagem, sem hipocrisia, sem ilusão e sem legalismo, João apóstolo completou o alcance da graça de Deus também em favor dos crentes em Jesus Cristo: “Mas se alguém pecar, temos um advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo” (I João 2.1). É a mesma idéia defendida por Paulo apóstolo, quando afirmou o tipo de relacionamento que o crente em Jesus Cristo tem com Deus: se Deus nos amou sendo pecadores, é certo que seu amor como nosso Pai Celestial é ainda maior (Romanos 5.8,9). Continuando a praticar o arrependimento e a confissão, o crente em Jesus Cristo continuará sendo perdoado pela graça de Deus, para prosseguir em sua vida cristã, tendo como alvo a nova vida sustentada pela presença, plenitude e agir do Espírito Santo, que o leva a praticar os mandamentos de Deus, sem legalismo, hipocrisia, libertinagem e ilusão.

            Por tudo isto, em todas as situações que venha a experimentar na vida, conserve em sua mente e em seu coração as palavras de Jesus Cristo: “A minha graça te basta”. Viva sempre pela graça em seu relacionamento com Deus, com outras pessoas e consigo mesmo!
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